domingo, 28 de novembro de 2010

Sou eu




Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,

Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.


E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.


E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.


Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.


Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.


Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! ...




Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa



P.S: Foto publicada no site http://olhares.aeiou.pt/ da autoria de Taya

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O contrapasso





Algures perdidas em textos, fotografias e pessoas não vejo maneiro de as encontrar, faltam-lhe as respectivas saliências… As concordâncias que fazem com que o verbo ser seja resultado directo do verbo estar… Elas andam por aí em telas nunca antes vistas e em pensamentos nunca imagináveis… Estão algures dentro de pessoas que eu não encontro, em pronúncias protegidas… Em miocárdios muito pouco explorados… Elas andam no privado.Deixaram-se de exposições desnecessárias porque quando delas se fala não há exposição que lhes valha… São modos, feitios, antagonismos, contradições ao vulgarmente actual… Deixaram-se dos apanágios e das estrondosas celebrações da sua existência… Já pouco se usam, raramente se vêm e pouco ou nada se sentem… De modo que a sua localização exige-se… É urgente encontrá-las e praticá-las como se delas dependesse toda uma existência… Deixemo-nos do amanhã serei ou do tenho sido, deixemo-nos de interiorizações ocas e desprovidas de conteúdo… Deixemo-nos de ser pessoas em p minúsculo e passemos a ser pessoas grandes com G maiúsculo… Passam-se minutos, horas, dias e meses em que as minúsculas evidenciam pessoas em tamanho microscópico com pensamentos à escala milimétrica… Perderam com elas os valores e passaram estes a ser pequeníssimas ideologias deprimentes… Esconderam-se os tesourinhos nos cofres da mente e resguardaram-se os mesmos das intempéries…Recearam confrontações desnecessárias e imposições utópicas nos ensaios do que é ser em SER maiúsculo… Fiquemo-nos pelos textos em minúsculas e pela ausência de pontuação… Passemos das letras às pessoas e deixemo-nos de divagações… Deixemos os sentimentos minúsculos e os interesses pessoais para quem de direito os valoriza e dirijamos por momentos as nossas atenções aos desaparecidos… Àqueles que de grande têm tudo e do tudo que têm evitam exibicionismos… Viver em arte é saber transpor histórias pequenas em conteúdos enormes, em pessoas com PERSONALIDADE e ALMA transformar valores em matérias de estudo teórico e prático… Deixemos os ensaios para ontem e os desejos para anteontem… Na verdadeira gestão do tempo ser está para o presente como o oxigénio está para a existência… É de maiúsculas que se precisa e de pessoas que nelas coloquem em prática todas as conjugações do verbo SER nos respectivos tempos.









"Não penses para amanhã. Não lembres o que foi de ontem. A memória teve o seu tempo quando foi tempo de alguma coisa durar. Mas tudo hoje é tão efémero. Mesmo o que se pensa para amanhã é para já ter sido, que é o que desejamos que seja logo que for. É o tempo de Deus que não tem futuro nem passado. Foi o que dele nós escolhemos no sonho do nosso absoluto. Não penses para amanhã na urgência de seres agora. Mesmo logo à tarde é muito tarde. Tudo o que és em ti para seres, vê se o és neste instante. Porque antes e depois tudo é morte e insensatez. Não esperes, sê agora. Lê os jornais. O futuro é o embrulho que fizeres com eles ou o papel urgente da retrete quando não houver outro."

Vergílio Ferreira, in "Escrever



P.s. Foto pubicada no site http://www.olhares.aeiou.pt/ da autoria de Hugo Tinoco

domingo, 24 de outubro de 2010

O que vamos fazer hoje?



De repente acordei de um sonho em que tudo era negro e que perante as adversidades, o papel que me cabia a mim não era mais do que muitos outros papéis que não se destacam no rol da vida…

Senti que poderia dar às lágrimas e à tristeza uma ênfase de tal modo assoberbada que nada nem ninguém, em tempo algum, poderia demover-me deste estado… Engrandeci os problemas à escala mil e à escala mil decidi que deveria pensar neles milimetricamente…

Senti por momentos um daqueles sufocos em que não se consegue respirar, não se consegue sentir e muito menos racionalizar…. Desenhei uma alma num corpo enorme e senti-me pequenina, à escala de um lego…

Acordei e ainda muito adormecida deixei os meus sentidos numa gaveta, peguei no corpo e no pouco espírito que ainda restava e levei-o a inúmeros sítios. Não me recordo de nenhum deles, vi e falei com pessoas que me contaram histórias, não me lembro dos seus rostos, nem relembro as suas histórias…

Era como se a cada segundo vivido uma borracha apagasse quem por lá esteve e o que lá se contou.

O passado tornou-se obsoleto, o presente tornou-se a memória de um pesadelo, repleto de angústia, mágoa e ressentimento. Meu corpo estava imóvel, intacto e apático, minha alma não respirava nem dormia há dias, estava por assim dizer em estado vegetativo.

Não havia dia que passasse em que pensasse em alguém que não eu. Estava gelada, já não sentia os batimentos do meu coração, não distinguia o frio do calor e por conseguinte não me mexia. Sentia os meus pés atados ao chão num buraco de mil metros e ainda assim não queria nem chamar nem ouvir ninguém. Estava surda, perante os problemas e surda para com o meu pensamento…

Esqueci-me de pensar. Já não mais vivia e numa tentativa frustrada de reparação dos danos causados tentei acordar... Em vão…

De tal modo que, perante a penúria da minha alma acreditei piamente que era infeliz, inconstante e que era sina minha, esta de viver num mundo paranormal que por mais irracional que parecesse atraía meu o corpo, o meu sangue o meu folêgo e minha alma numa sede de respostas, de confirmações, numa espécie de consolidação do que seria a minha razão….

Foi aí que te vi e senti desmoronar tudo aquilo em que acreditava, num instante em que uma imagem vale mais do que mil palavras acordei para a razão. Desentorpeci o meu egoísmo e verifiquei que não foi necessária uma única palavra para perceber que me tinha deixado levar por um caminho que longe estava de ser o mais feliz…

Chorei a teu lado o meu egoísmo e acordei a minha alma… Despolui-me de ingratidão e de desobediência ao meu conceito de justiça.

Nessa altura senti que estava rodeada de pessoas como tu… Belas em espírito, enormes na alma… Creio que me cruzei com elas todos os dias, mais do que uma vez. Na realidade cheguei à conclusão de que nunca as quis ver, mais do que isso, não olhei para elas, não lhes vi a aura nem lhes dei a devida atenção… Não reconheci que o meu semblante perto delas era pesado, atroz e assustador…

Não sei se a vida tem vários caminhos ou se somos nós que nos deixamos encaminhar… Talvez seja um pouco dos dois… Felizmente acordei e percebi que estava a sofrer…

Nesse momento agradeci por ter tido a sorte de encontrar alguém como tu na minha vida.

P.s: Foto publicada no site http://olhares.aeiou.pt/ da autoria de Jorge Alfar

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Mil e um


Longe dos pensamentos corriqueiros que me assombram a alma e perdida em mundos que vão muito para lá do que é perfeitamente compreensível, sinto-me só… Os meus pensamentos há muito que excederam os limites do aceitável, há muito que quebrei com os convencionalismos que me delimitam a alma.


A verdade é que por momentos larguei as ideologias inflexíveis e limitei o meu comportamento, custa muito quando teimamos em calçar uns sapatos que não são os nossos e custa muito contornar as exigências do presente e os receios do futuro.

Não sei se esta minha exigência inflexível nos modos será a mais correcta, a única certeza que tenho é que me retirou por completo o sentido prático da vida… Viver sem sentidos já é suficientemente doloroso …

Nunca tive por ambição flutuar ao sabor das opiniões dos outros, nunca foi algo com que me identificasse, de todo, mas não sendo esta a minha opção de vida devo confessar que, independentemente do modo como se pensa e opina, como se é e como se sente, a verdade é que a busca que cada um faz em prol de si próprio é a mesma, o que se transfigura não é a vontade nem o tempo que falta, mas sim algumas diferenças de opinião…

O que difere é a maneira como queremos viver a vida e o que queremos deixar de legado em função disso mesmo…

A solidão, por vezes, tende toldar-nos o pensamento, a amolecer-nos as rotinas e a convicção de que ao termos tudo balizado ao pormenor poderemos ser verdadeiramente felizes… Errada e ingrata esta ideia, é importante olhar para outras pessoas e outros mundos, que não os nossos…

Já ousei criticar as pessoas idóneas que ao contrário de mim tentam viver a vida ao sabor não do vento, mas de qualquer coisa… Uma vontade, uma convicção, um gosto pelo incerto, um apego ao prazer ou uma outra qualquer infinidade de motes que nos encaminham para um lado, um qualquer lado, que por incrível que pareça, até nos faz felizes, até nos traz realização e até nos reconforta a alma…

Não há alma que consiga apenas subsistir…

Tenho tentado à força esquecer os desígnios, tenho tentado fechá-los a sete chaves e tenho tentado acreditar que não penso neles, mas na realidade não há felicidade que resista ao medo ou à negação de que algo bom ou mau nos espera e nos quer ensinar que não há alma sana sem a verdadeira aceitação da vida e dos conceitos que fazem dela uma belíssima pintura...

Há inúmeras conquistas, mas há uma que é, sem sombra de dúvida, a mais difícil, aquela em que, somos obrigados a aceitar por nós próprios e pelo que incessantemente desejamos, que na vida há uma batalha a travar, aquela que provavelmente nos fará felizes.

Há quem lhe chame o reencontro. O reencontro com o que somos intimamente não aos 15, nem aos 20, não aos 60, nem aos 90, mas sim com aquilo que sempre fomos e que disfarçadamente fingimos não conhecer, fingimos não aceitar.

A luta pelo amor em todas as vertentes, a valorização das pessoas e a repercussão dessa mesma valorização na nossa vida. A alegria que isso nos transmite e o bom que é saber viver com as pessoas na amizade e na inimizade, quando aprendemos que também é bom perdoar e e por consequência sentir que algum dia iremos merecer e ter legitimidade, também nós, para sermos perdoados…

Saber viver é saber dizer sim não uma vez, nem duas, mas sim muitas, dizer mais vezes sim do que não, dizer mais vezes acertar é humano…

Saber questionar até que ponto somos modelos de existência, saber compreender e respeitar os outros e os seus próprios modelos. Saber estender uma mão em vez de atirar uma pedra e mesmo assim tirar proveito disso, aproveitando as pedras para outras construções, mais dignas e mais justas.

Cheguei à conclusão que vale sempre a pena lutar por aquilo em verdadeiramente se acredita seja de que forma for e faço, uma vez mais, a banalíssima constatação de que urge ser e estar no sentido literal.

P.s. Foto publicada em
http://olhares.aeiou.pt/ da autoria de Jorge Alfar

sábado, 28 de agosto de 2010









"O amor é um modo de viver e de sentir. É um ponto de vista um pouco mais elevado, um pouco mais largo; nele descobrimos o infinito e horizontes sem limites" Gustave Flaubert


sábado, 21 de agosto de 2010

- A que distância estamos do amor?

O amor não tem distância!

terça-feira, 17 de agosto de 2010






Num daqueles dias bem monótonos receio afirmar que no meio de tanta ausência de poder opinativo me esqueci de dizer a alguém que eu ainda penso e que eu ainda sinto… E que eu sou mais do que um corpo e muito mais do que meia dúzia de palavras, esqueci-me de contar que nesta história que é a minha eu ainda luto, ainda que por vezes em piloto automático… Esqueci-me de me fazer sentir e de me dar à existência… Mas eu ainda vivo… E faço questão de mostrá-lo, ainda que com mais ou menos vontade e convicção... Se de modos falássemos hoje eu seria capaz de refutar a teoria de que a diplomacia deveria estar presente em cada um dos lados do nosso coração, o lado que pensa e o que por sua vez exterioriza... É que de diplomacias utópicas está o pseudo-carácter de muitas pessoas cheio... Pseudo porque raramente, ou quase nunca, atravessa a fronteira da teoria para a acção propriamente dita.
Estranha sentença esta que todas, ou quase todas as pessoas (as outras) têm de limitar-me as capacidades e limitar-me o juízo, justificando isso apenas e só pelo silêncio inerente à minha pessoa e o silêncio às vezes mas, só mesmo às vezes, pode ser bem comprometedor.
Ah se pode… Se os atestados de insanidade se pagassem provavelmente a compra destes seria muito mais contida e certamente muito mais ponderada... É que isto de ser preconceituoso ainda não se paga e também não se aceitam retomas... Ainda assim estou ciente de que ainda não me deixei comprometer, ainda não deixei de me comover, ainda não deixei de me preocupar, ainda não deixei de fazer auto-criticas, auto-avaliações, continuo a medir o meu egoísmo, a racionalizar conceitos e a relativizar problemas...Não me lembro ainda de ter sequer deixado de respirar… Não… Não mesmo! Ando anestesiada, entorpecida pelos sentidos, talvez mas, morta não… Preocupo-me em saber se efectivamente me desmazelei na crença ou se por outro lado fizeram questão de tomar essa decisão por mim... Não me lembro também de algum dia ter permitido sequer a quem ousasse fazer tal... Incoerências estas que apenas me acordam do entorpecimento que é viver em monólogos silenciosos... Quero acreditar que um dia destes não irei necessitar de andar com uma tabuleta na testa para me fazer entender. Portanto que fique bem claro que enquanto viver não permito, nem admito, que me passem uma certidão de óbito. Tenho dito!


P.s.: Foto publicada no site http://olhares.aeiou.pt/ da autoria de Alexandre Grand

quinta-feira, 12 de agosto de 2010






São precisos 100 anos para sentir o calor das mãos que nos agarram e para ver o mapa geográfico das nossas veias... São precisos 100 anos para pegar no arquivo morto, o da infância, o da juventude, o da maioridade para meditar nas acções... São precisos 100 anos para pensar no passado e vive-lo no presente, sim são precisos 100 anos para pegar nos tarecos e ir para um lar e apenas saber nessa altura o que é um lar... São precisos 100 anos para saber a merda que é o orgulho que nos ata as mãos aos abraços que tanto queremos dar, são precisos 100 anos para saber sentir a familia e saber valorizar a sáude... São precisos 100 anos para nos sentirmos felizes com as desventuras que nos fizeram crescer e são precisos esses mesmos 100 anos para adorar viver... São precisos 100 anos para recordar 100 alegrias, 100 momentos,100 pessoas, 100 batalhas e 100 desventuras... São precisos 100 anos para se ter coragem de ser... Sim ser... Mostrar as barreiras que durante esses mesmos 100 anos nos separaram por motivos completamente desnecessários... São precisos 100 anos para recordar os aniversários que se cantaram, as velas que se apagaram, as árvores que se plantaram e os livros que se leram... São precisos 100 anos para se relembrar as 50 vezes que tentamos escrever bem o nosso nome e as outras 50 em que tentamos ver para as conseguir escrever ... São precisos 100 anos para ver e cegar e sentir saudades de olhar para os filhos, os netos, os bisnetos, os amigos, os sobrinhos, os presentes... E ver-se ao espelho... 100 anos de vida postos num roteiro de rugas traçadas por sorrisos e lágrimas 100 de cada e em cada face... São precisos 100 sentidos para se sentirem 100 saudades... E 100 dias para se viver em paz e outros 100 em alegria... e outros 100 só... São precisos 100 lápis de 100 cores para te pintar a viagem, a tua, a nossa a de todos num só dia... Este! O nosso!

domingo, 8 de agosto de 2010







Estou cansada dos textos existencialistas, quero coordenadas. Estou perdida, muito perdida... Não quero conselhos e muito menos moralismos, são a pior forma de ajudar alguém... Quero pessoas, as minhas pessoas, as da minha vida, as que fui e já não me lembro de ser. Quero-me a mim intacta com a mesma vitalidade e com a mesma vontade de sorrir perante as adversidades. Quero saber quem me levou, quem me desarmou, quem me levou a alma, aquela pela qual choro a sua ausência a toda a hora. Quero que me devolvam o que é meu por direito e que por alguma razão deixei escapar nas entrelinhas do passado... Estou farta de artificialismos, de falsos problemas e estou farta de superficialismos, quero-me libertar deles para poder dar graças... Sim graças... Saber agradecer a existência de certas pessoas na minha vida, saber agraciar aquilo que me permite respirar e valorizar isso... Não quero mudanças, foram sempre intempestivas, ingratas, malditas. Mudanças que nos arrancam a essência... Nos deixam a mágoa e nos amarram aos medos e aos problemas do passado... Cansa-me... Cansam-me, os medos, assustam-me e provocam-me ansiedade... O medo da morte, o medo da doença, o medo de me tornar invisível, comum e apática... Detesto vitimizações e estranhas apatias, aquelas que não se justificam... Preciso de ferramentas para combater esta mudança.... Preciso da minha alma... Preciso muito da minha alma...
Alguém viu alguma por aí? Tragam-ma por favor, é minha e estou certa de que,tal como eu, sente saudades minhas!
P.s. Foto publicada no site http://olhares.aeiou.pt/ da autoria de Xavier

sábado, 24 de julho de 2010

"Para unir é preciso amar, para amar é preciso conhecer, para conhecer é preciso ir ao encontro do outro" Card Mercler

domingo, 18 de julho de 2010




Quando te sinto não te imagino, não te penso, nem te sonho… Apenas vivo! Quando te vivo enches-me a alma de sonhos e de memórias, retiras-me a racionalidade, como se de uma peça de roupa se tratasse…
Acordas-me os medos, acordas-me sentidos… Aqueces-me a alma, aqueces-me o corpo… Despida de preconceitos e complexos momentâneos revivemos o passado e alinhamos o futuro, num compasso de espera que é meu, que é teu e que é nosso…
Descobres-me a face, descobres-me o coração dos medos e trazes até mim as realidades utópicas que serão o teu, o meu, o nosso futuro…
Endereças-me cartas com juras repletas de infinitos e com caminhos até então desconhecidos…
És meu no corpo, na forma, na alma e na essência.
Partilho teu oxigénio no nosso último suspiro e nosso último encontro nessa que é a nossa primeira despedida, a de muitas, insubstituíveis, inseparáveis.
Quero no mais íntimo do meu ser alienar-me do mundo e perder-me contigo num espaço planetário idealizado ao milímetro num metro para dois e poder sentir-te num arrepio, naquele que me acorda para ti, a toda a hora…
Sentir-me viva ao poder tocar-te e aquecer-te a alma com as mãos, aquecer-te o coração com um abraço…
Em monólogo com a força tento dizer-lhe que hoje minha alma chora com a tua ausência mas alegra-se por te ter vivido e por ter tido a oportunidade de sentir amor… Do grande, do verdadeiro!
P.s: Foto publicada no site http://www.olhares.aeiou.pt/ da autoria de Carlos Pereira

sábado, 3 de julho de 2010




"Descansa do som no silêncio, e do silêncio digna-te tornar ao som. Sozinho, se souberes estar só, deixa-te ir por vezes até à multidão". Victor Segalen

quarta-feira, 30 de junho de 2010





Se te perguntar hoje qual a maior preocupação da tua vida que me responderias? Estou em crer que será a concretização de determinados objectivos em prol da felicidade, mas se tirássemos uns momentos apenas para divagar sobre conteúdos que me responderias?

Falemos de nós! Falemos de todos!

Sinto-me tentada a afirmar que em conversas paralelas, com discussões, sempre ou quase sempre acérrimas mais demarcadas pelo calor da conversa do que pelo que é verdadeiramente importante, não é de conteúdos que se fala, fala-se de pessoas, de razões, da típica tentativa frustrada do vejamos quem fica por cima e fala-se pouco, mas muito pouco com conteúdo…

Temo ter ficado para trás no tempo, como que perdida numa qualquer página de um livro de Kant, uma daquelas em que o que se determina não é o tempo nem as pessoas, mas sim atitudes, vivências, posturas de vida face a comportamentos que deveriam ser morais, ainda que muito alicerçados em utopias…

É isso mesmo!

Sem dúvida que me perdi no tempo e pelo tempo e nem dei passar pelas pessoas, fiquei na página 1 do livro 1º da vida a tentar dissuadir más ideias, más virtudes, numa definição utópica de vida, num daqueles impasses em que estou a um minuto de tomar uma atitude, só que com a diferença de que a preocupação não é contudo inerente a uma decisão, mas sim a uma infinidade de muitas outras que se seguirão a esta…

Sim… Estou a pensar em cada uma como se de um filho se tratasse… A educação é um dos primeiros passos para uma construção sólida, mais importante do que isso, credível…

Será que com isto me compreendes? A confiança com que acredito que me compreendes é a mesma com que me sinto motivada a tentar.

Quero debruçar-me sobre os assuntos que fazem parte integrante da minha vida, mais do que isso esmiuçá-los até ao último grão… Vivê-los, senti-los e praticá-los, afincadamente, como se eu própria pudesse ser a única interveniente da minha própria viagem, conduzindo e sendo conduzida ao mesmo tempo

Ah sim! Quero! Quero muito!

Ter prazer na condução… É disso mesmo que se trata!

Sempre que penso nisto comparo esta busca incessante à simples condução, se se vai atrás, o mais certo, é não se saber, e muitas vezes nem se reparar, se há perigo à frente ou não, se está céu limpo ou nublado, se as condições são adversas, ou não, se há tempo, ou não, para reagir a um pequeno solavanco ou à perigosíssima possibilidade de um despiste, não se medem nem riscos nem consequências...Quem segue atrás não sente, dificilmente vê, raramente reage e não pondera, por assim dizer, qual o seu grau de interveniência face a uma destas circunstâncias.

E a vida não espera!

(Nem faço questão de a fazer esperar!)

É ela mesma uma viagem cujo participante tem sempre a oportunidade de decidir se toma as rédeas ou se apenas se limita a usufruir da mesma…

Sabes tão bem como eu que em tempos de crise meio mundo conduz enquanto outro meio mundo se deixa conduzir.

Am I right?

Perpetuemos os dois, numa jura bem silenciosa, a intenção e o desejo de continuar a lutar e a tomar as rédeas do nosso próprio barco em direcção a um caminho mais sentido, mais ponderado e por consequência muito mais comedido.

As long as I live let it be… Let me be!
P.s. Foto publicada no site www.olhares.aeiou.com da autoria de Jorge Alfar

sábado, 26 de junho de 2010





Deixa-me sentir-te hoje, faremos aquela viagem, a das nossas vidas, aquela mesma em que tu me conduzes a ti e me mostras o caminho, me guias, me escutas e me ouves, aquela em que partilhamos a mesma música o mesmo ar e as mesmas lágrimas.... Esqueçamos só por hoje os actos irreflectidos e os "ses" das nossas vidas, se me deres a mão eu prometo não te largar...
Fala-me ao ouvido e conta-me como correu o teu dia, não há nada mais animador do que saber como estás... Sentir-te perto de mim, ainda que só por momentos... Não há motivo maior para sorrir do que esse... hoje e só por hoje façamos um brinde a ti, a mim, a nós, a tudo aquilo que se proporcionou... Sentir que pude dar forma e trabalhar o meu coração foi uma das maiores, senão a única benesse da minha vida e se a ti se deveu então celebremos ao amor... Nunca percebi muito bem a minha posição perante os outros e perante ti até te ter encontrado, foi graças a ti que tive a feliz oportunidade de me ultrapassar, foi graças a ti que contornei a maior parte dos obstáculos e ainda hoje te agradeço a toda a hora quando te sinto através de uma brisa do mar, de uma palavra, de um perfume, ou até mesmo através de um simbólico gesto... Permite-me hoje a honra desta dança, aquela que nunca tivemos oportunidade de dançar e eu hoje prometo ao ouvido te sussurar os mais belos designios do amor... Ajuda-me a fazer a nossa lista de tarefas, aquelas mesmas tarefas, que queremos imenso fazer juntos... e diz-me, diz-me tudo o que sentes e eu estarei aqui para te ouvir e para te compreender... Ajuda-me a compreender-te e aprendamos a amadurecer juntos como os casais que vivem mais de meio século juntos.... Eu prometo estender-te sempre a mão quando estiveres só, cansado, doente, triste, chateado... Quero muito poder hoje caminhar à chuva contigo será sinal de que alguém estará também a celebrar o nosso amor... Não me deixes nos intermitentes e eu prometo nunca te deixar para trás... Senta-te ao meu lado matemos a solidão, esta que me sufoca a alma sempre e quando não estás presente... E eu prometo sempre sorrir-te quando estiveres triste... Falta-me com palavras e eu prometo nunca te faltar com afectos.... Dialoguemos hoje até amanhã e faremos deste diálogo o maior das nossas vidas... Alegra o meu coração e eu prometo que te alegrarei todos os dias da nossa vida... Ajuda-me a fazer desta utopia a maior verdade de todas e eu prometo fazer contigo todos os dias um verdadeiro elogio ao amor!



Foto publicada no site http://www.olhares.aeiou.com/ da autoria de Carlos L.

quinta-feira, 10 de junho de 2010



Hoje, foi um dia como muitos outros, o céu cinzento ameaçava um temporal, mas ele ainda assim ergueu-se.

As pernas trémulas retratavam o mapa geográfico de todas as ruas percorridas ao longo de toda a sua vida… As mãos bonitas, a modos que como alguém disse, um pouco sacerdotais, a aliança a mesma aquela que nunca tirou desde que a sua querida esposa faleceu.
A serenidade é a mesma desde os tempos em que pela primeira vez o vi, o olhar fechado pela visão turva que teima em ficar, a memória única, a sabedoria, a de sempre…

A vida, desde novo ensinou-lhe que para se vencer seria vital lutar…

Nasceu numa freguesia algures na Santa Maria da Feira, terra onde as pessoas pegavam em cadeiras e juntavam-se em tertúlias pela noite dentro, alturas em que o tempo não apagou as vivências que a memória teima em recordar…

Era ainda pequeno quando perdeu a mãe, ficou com três irmãos todos mais novos, era de sangue nobre, filho de um regedor importante na terra, regedor esse que não assumiu o filho por este ser fruto de uma relação extra-conjugal…

Cresceu livre em espírito e nobre em seus ideais, começou a trabalhar numa serralharia como um simples operário até se tornar encarregado de produção, o caminho era sempre feito da mesma forma, os tempos já lá vão, tempos em que o carro era um luxo e a bicicleta era um bem necessário para percorrer mais de 30 km por dia.

Encontrou aos 20 anos a mulher com quem iria estar casado mais de 70 anos, relação edificada com muito esforço e sacrifício. Educou 5 filhos, 3 meninos e 2 meninas, viu crescer netos, bisnetos, viu tristeza alegria, viu desalento, mas nunca desistiu, tem e teve sempre um humor incontornável…

Estendia a mão com a mesma facilidade com que dizia olá…

Homem extremamente social tinha o dom nato de tocar cavaquinho como ninguém, foi condecorado, pertenceu a uma banda musical, pertenceu a um rancho folclórico e ergueu um coreto.

Confessou-me há pouco tempo que para agarrar a mulher que amava casou com a mesma já grávida de 3 meses…

Demorei 23 anos a saber que, apesar de rígido em valores e ideologias, intransigente na educação, gostava de fumar uns cigarrinhos às escondidas, cigarros esses, que comprava avulso. Fumava sempre à saída do trabalho, para que a mulher e os filhos não soubessem, acabou por me confessar que perdeu o vício à custa de uma aposta… À custa de ser um eterno escravo da palavra…

Sim, incutiu-me desde pequena que, para sermos grandes, devemos ser cumpridores da nossa palavra, devemos ser firmes nos ideais e aventureiros nas conquistas…
Tem hoje 92 anos e no rosto as histórias de toda uma vida, a alegria, de longe que, já não é a mesma e as poucas palavras que tardam em chegar reflectem uma solidão imensa…


Hoje, foi um dia como muitos outros, o céu estava cinzento e a noticia não tardava em chegar... O meu querido avô está cansado de lutar…

E eu…. Ah eu…. Sinto-me vazia, oca, distante e impotente…

E hoje, foi um dia como muitos outros, hoje urge pensar!


P.s. Foto publicada em www.olhares.aeiou.pt da autoria de Germina.

quinta-feira, 3 de junho de 2010



Desassossego,


É do que se trata... Elas sentem-se soltas, alienadas e perdidas (as palavras)... Anseiam a reconciliação...

É deveras surpreendente o poder que elas exercem...


Reforçam-me as ideias e no seu todo exigem exteriorização...


Não sou nada sem elas... As palavras reflectem todas as minhas ideias, mesmo nos dias em que consigo ser uma eterna escrava do pensamento.


Dizem os entendidos que as pessoas exigentes são assim.


Dizem os mesmos que não há pior do que viver a vida ao sabor do vento... Sem réguas, sem medidas, sem aproximações ou afastamentos, ainda que utópicos, do que é realmente importante...


Viver sem cautelas, sem reservas, sem exigências inerentes, face ao que sou e penso, é algo demasiado transcendente para suportar passivamente ...

Lutas a ter, talvez batalhas a travar... É disso do que se trata mas, até lá...~


Não sei...

Sei que é óptimo estar de volta!
And thats all that matters....





P.s: Foto publicada no site http://olhares.aeiou.pt da autoria de Alexander Kharlamov