domingo, 24 de outubro de 2010

O que vamos fazer hoje?



De repente acordei de um sonho em que tudo era negro e que perante as adversidades, o papel que me cabia a mim não era mais do que muitos outros papéis que não se destacam no rol da vida…

Senti que poderia dar às lágrimas e à tristeza uma ênfase de tal modo assoberbada que nada nem ninguém, em tempo algum, poderia demover-me deste estado… Engrandeci os problemas à escala mil e à escala mil decidi que deveria pensar neles milimetricamente…

Senti por momentos um daqueles sufocos em que não se consegue respirar, não se consegue sentir e muito menos racionalizar…. Desenhei uma alma num corpo enorme e senti-me pequenina, à escala de um lego…

Acordei e ainda muito adormecida deixei os meus sentidos numa gaveta, peguei no corpo e no pouco espírito que ainda restava e levei-o a inúmeros sítios. Não me recordo de nenhum deles, vi e falei com pessoas que me contaram histórias, não me lembro dos seus rostos, nem relembro as suas histórias…

Era como se a cada segundo vivido uma borracha apagasse quem por lá esteve e o que lá se contou.

O passado tornou-se obsoleto, o presente tornou-se a memória de um pesadelo, repleto de angústia, mágoa e ressentimento. Meu corpo estava imóvel, intacto e apático, minha alma não respirava nem dormia há dias, estava por assim dizer em estado vegetativo.

Não havia dia que passasse em que pensasse em alguém que não eu. Estava gelada, já não sentia os batimentos do meu coração, não distinguia o frio do calor e por conseguinte não me mexia. Sentia os meus pés atados ao chão num buraco de mil metros e ainda assim não queria nem chamar nem ouvir ninguém. Estava surda, perante os problemas e surda para com o meu pensamento…

Esqueci-me de pensar. Já não mais vivia e numa tentativa frustrada de reparação dos danos causados tentei acordar... Em vão…

De tal modo que, perante a penúria da minha alma acreditei piamente que era infeliz, inconstante e que era sina minha, esta de viver num mundo paranormal que por mais irracional que parecesse atraía meu o corpo, o meu sangue o meu folêgo e minha alma numa sede de respostas, de confirmações, numa espécie de consolidação do que seria a minha razão….

Foi aí que te vi e senti desmoronar tudo aquilo em que acreditava, num instante em que uma imagem vale mais do que mil palavras acordei para a razão. Desentorpeci o meu egoísmo e verifiquei que não foi necessária uma única palavra para perceber que me tinha deixado levar por um caminho que longe estava de ser o mais feliz…

Chorei a teu lado o meu egoísmo e acordei a minha alma… Despolui-me de ingratidão e de desobediência ao meu conceito de justiça.

Nessa altura senti que estava rodeada de pessoas como tu… Belas em espírito, enormes na alma… Creio que me cruzei com elas todos os dias, mais do que uma vez. Na realidade cheguei à conclusão de que nunca as quis ver, mais do que isso, não olhei para elas, não lhes vi a aura nem lhes dei a devida atenção… Não reconheci que o meu semblante perto delas era pesado, atroz e assustador…

Não sei se a vida tem vários caminhos ou se somos nós que nos deixamos encaminhar… Talvez seja um pouco dos dois… Felizmente acordei e percebi que estava a sofrer…

Nesse momento agradeci por ter tido a sorte de encontrar alguém como tu na minha vida.

P.s: Foto publicada no site http://olhares.aeiou.pt/ da autoria de Jorge Alfar