sábado, 6 de agosto de 2011

Sometimes you just have to walk away

Ocorreu-lhe um dia pensar que as suas ideias não eram mais as dos outros e que, alheada do seu mundo, ela continuava a analisar a vida como uma criança que na sua inocência desmancha um brinquedo apenas para perceber como funciona… Mas as pessoas há muito que não eram brinquedos e a sua capacidade de os desmanchar na ânsia de os entender já não era a mesma.
Não obstante a tudo isso ela ainda acreditava que havia um meio para o verdadeiro entendimento. Um entendimento que com toda a certeza traria um propósito à sua vida. A fiel devoção aos valores e regras eticamente morais, a sua rigidez na aceitação de novas formas de estar havia a encaminhado para a solidão e para a total carência de afectos e palavras… As pessoas já não eram as mesmas e ela agora apenas via sombras com as quais não se aproximava por receio da rejeição…
A verdade é que ela sabia e sentia que o caminho era aquele e que para poder ultrapassar as suas más escolhas deveria entrar no comboio em vez de caminhar ao lado da linha… O comboio seguia veloz e ela, ela por muito esforço que fizesse não o conseguia acompanhar…
Assim era o rumo da vida também… Provavelmente poucas pessoas demorariam muito tempo a pensar… Os pensamentos eram para ser tidos rapidamente, em constante movimento e sem parar. As pessoas apenas pensavam no quotidiano e o seu quotidiano já ocupava muito mais do que poderiam algum dia imaginar…
E ela… Ela ia ficando para trás… ficando para trás… fixando o seu pensamento nas pessoas, aprofundando-o nas suas motivações e delineando caminhos para chegar até elas… E entre segundos, ela sofria e sentia medo, medo de ser escrava do pensamento… Medo de nunca conseguir chegar à porta do comboio, medo do seu tempo, do seu tempo lento, demasiado lento para alcançar a vida.
Ela sentia… Sentia sim… o verdadeiro medo de nunca chegar à sua vida, nunca chegar a agarrá-la e vivê-la sem nunca a deixar fugir, sem nunca chegar à linha ténue da morte e sentir que nada daquilo foi seu… Que nada chegou a sentir e que nada chegou a viver… O medo de poder perder muitos finais de tarde, o medo de não chegar a viver um único com a intensidade que se deve, o medo de não ter nunca tido força para agarrar um amor e lhe dar carinho, afecto e respeito, o medo de viver despojada de palavras meigas e ternas e de com estas aquecer o coração de quem não pede, mas sente e muito…
O caminho do lado da linha era longo, muito, muito longo, demasiado longo até para quem teima em seguir plenamente concentrada para não perder paisagem, pedras, buracos e desvios.
A concentração a par da teima em seguir em frente era factor totalmente alheio à sua preocupação. Ela não conseguia perceber a subtil diferença entre reconhecer que o que está perto rapidamente alcançará o que está lá longe.
Ela simplesmente não conseguia perceber que do local onde ela estava se avistasse lá longe apenas conseguiria ver uma paisagem muito pouco recortada, parca em pormenores, se ela ao invés disso algum dia tivesse a ousadia de não se focar apenas no caminho e olhasse em seu redor facilmente perceberia que o verdadeiro sumo da vida encontra-se no agora e no presente não no que está lá atrás, nem no que está lá para a frente… Reconheceria assim, que o longe se faz perto mais depressa do que ela algum dia poderia imaginar.
Ainda assim, eu ia seguindo copiosamente o rasto do seu caminho na expectativa de perceber se no final ela conseguiria entrar, sentar e seguir viagem naquele tão afamado comboio ou se porventura iria dar azo ao meu mais íntimo e único desejo. O desejo de que ela se sentasse logo ali, no chão, a meio do caminho, a observar quão belo e diferente poderia ter sido o seu destino.